Estreando colaboração fixa na Gazeta do Sul


A partir de hoje estou estreando uma colaboração fixa na Gazeta do Sul. O Mauro, editor do Mix e do Magazine (desde 96 edita meus textos no jornal), disse que gosta muito dos meus textos e quis, nas palavras dele, que eu "entrasse para seu time". Não recebo nada por isso, é um trabalho amador, no sentido literal da palavra, mas fico feliz em saber que o que escrevo agrada a algumas pessoas. Os textos sairão de 15 em 15 dias, nas quartas, salvo se tiver alguma matéria "mais relevante" para esse dia.

Desparecer para aparecer

Doutor Pasavento, de Enrique Vila-Matas (CosacNaify, tradução de José Geraldo Couto), foi publicado no Brasil na mesma época da morte de J. D. Salinger. O romance do escritor espanhol tem como tema o desaparecimento de escritores. E Salinger foi um notório recluso, que optou por sumir do meio literário, apesar de o seu paradeiro ser de conhecimento de todos. Sincronicidade ou apenas coincidência?
Para quem não sabe, sincronicidade foi um termo criado pelo psicanalista C. G. Jung para designar eventos que acontecem simultaneamente e que são significativos para as pessoas, diferente da coincidência, que é uma conexão aleatória entre os fatos. Se alguém está pensando em uma pessoa e de repente recebe uma ligação telefônica dela, estamos diante de uma sincronicidade, afinal elas se conhecem e, no inconsciente de cada uma, há o desejo de conversarem, mesmo sem terem combinado nada. Agora, se a pessoa conversa com um desconhecido em uma parada de ônibus e descobrem que ambas têm amigos em comum, há apenas uma simples coincidência, afinal, como diz o ditado, “o mundo é pequeno”. (Ok, sou leigo no assunto. Para críticas, escrevam cartas, ou melhor, e-mails para a redação.)
Poderíamos classificar Doutor Pasavento como um romance ensaístico ou um ensaio romanesco? Já no início é citado o primeiro escritor dentre tantos que vão surgir na narrativa: Montaigne. É uma pista de que leremos uma espécie de ensaio, afinal, o escritor francês foi o pai do ensaio moderno, assim como os escritores Sterne e Cervantes, também citados, foram os criadores do romance-ensaio. Montaigne se refugiou em uma torre para escrever e é isso que Vila-Matas vai analisar: os escritores que resolvem desaparecer. Em obras anteriores, como sua obra-prima, Bartleby e Companhia, ele retratou os escritores que deixaram de escrever. Em O mal de Montano, abordou a “doença” de querer escrever. Ou seja, grande parte da sua obra tem como tema central a própria literatura. É a obsessão de Enrique Vila-Matas.
O protagonista é convidado para um encontro literário em Sevilha, justamente depois de ter imaginado essa viagem. Hospedado em Paris, descobre que o lugar onde está também foi ocupado por outros escritores. Sincronicidades? Resolve, depois, sumir no meio do caminho para o encontro literário, assim como fez certa vez Agatha Christie, e como fizeram tantos outros escritores, principalmente Robert Walser. Assume uma identidade falsa, a do psiquiatra Doutor Pasavento, para realizar novos projetos. Vila-Matas, em seu site na internet, diz que interpretar que o romance é sobre o desaparecimento e a solidão é aceitável, mas do que realmente trata o livro é a “dificuldade de não ser ninguém”.
No Brasil, também temos alguns escritores que tentaram não ser ninguém. Os mais notórios são Dalton Trevisan e Rubem Fonseca. Ambos foram alvos de polêmicas nas últimas semanas. Sincronicidade? O primeiro, por ser retratado em um romance de Miguel Sanches Neto, seu ex-pupilo, e de não ter gostado nenhum pouco disso. O segundo, por aparecer no lançamento do livro de Paula Parisot, sua afilhada literária. O boato que corre nos meios literários é de que ela teria sido o pivô da saída de Rubem Fonseca da editora Companhia das Letras, que se recusou a publicar a obra da escritora. Para esse evento, Parisot faz uma performance dentro de uma caixa de vidro. Uma foto mostra Rubem Fonseca conversando com ela através da caixa, ele que sempre se fechou em uma redoma de vidro metafórica. Sincronicidade?
Enquanto alguns querem desaparecer, outros se expõem para chamar a atenção. Para se fazer literatura, não bastaria só escrever?

Comentários

Helena Jungblut disse…
Oi querido professor! =)

que bacana que vais escrever pra Gazeta! irei ler, sempre que puder!

Fiquei sabendo que esta dando aulas de espanhol no Monte, agora! :D fiquei feliz quando me disseram! Estou fazendo Letras Português/Español na Unisc!

Logo logo, espero ser tua colega! haha

Aliás, mudei de blog! :)


Um abraço!
Iuri J. Azeredo disse…
Bacana, Cassionei! Parabéns! Sugiro que haja uma "diversidade" de autores, livros, filmes etc. a serem comentados. Aliás, que a variação continue: obras e referências culturais mais "eruditas" e também coisas do universo "pop" - evidente que sempre na tua abordagem inteligente e humorada. Gosto e respeito muito o Romar, mas muitas obras que ele comenta parecem restritas a um mundo literário particular. Acho que bem poucas pessoas acabam por ler. O jornal talvez se preste mais para atiçar leitores, levando-os "didaticamente" a mais buscas. Não dá para ser por demais "esotérico"... Abraço!!!
Luis Fernando disse…
Nem sempre, mas vários autores que o Romar já citou podem ser encontrados nas bibliotecas. Assim, não acho tão "particular" esse mundo.
Cassionei Petry disse…
É bom lembrar que a coluna do Romar continua aos sábados. Ela resgata vários escritores que às vezes estão esquecidos. De qualquer forma, sempre acabamos falando de autores que fazem parte do nosso universo particular.

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