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BBB lembra Zé Ramalho, Pitty e Iron Maiden

por Cassionei Niches Petry

“Povo marcado, povo feliz”. É o verso do poeta que me vem à mente quando ouço a maioria da população brasileira dando palpites sobre o reality show da Globo. Vocês fazem parte dessa massa que assiste ao BBB? Eu não, mas não consigo me livrar de ouvir ou ler e, por consequência, escrever sobre o assunto. Dos programas de rádio que escuto, aos jornais que leio, além dos diversos sites da internet, em tudo há alguma informação sobre o programa. Não sei os nomes de quem participa, mas sei alguma coisa sobre eles. Há até uma colega da área de Letras. Como gado, as pessoas foram marcadas pelo símbolo da Vênus Prateada. Não é à toa que ela tem esse epíteto, pois a Vênus, ou Afrodite na mitologia grega, era a deusa da beleza, do amor e da sensualidade (daí surgiram palavras como camisa de vênus e afrodisíaco). A Globo seduz com suas belas imagens, mostrando mulheres igualmente belas, revelando o que mais seduz em seus corpos. Por isso chamei o BBB, em outra crônica, de Bobagens, Besteiras e Bundas.

A música de Zé Ramalho se chama “Admirável gado novo”, inspirada no romance Admirável mundo novo, de Aldous Huxley, publicado em 1932. Nesse romance, em um tempo futuro, as pessoas nascem em laboratórios, tendo seus genes condicionados para assumirem determinadas funções na sociedade. Depois, sofrem também um condicionamento psicológico. Isso tudo para que cada “cidadão” se torne aquilo que os governantes querem que ele seja. Todas as suas ações serão de acordo com as regras já estipuladas, desde as compras, o trabalho, passando pelos relacionamentos, o tipo de divertimento e até a droga que deve ser usada. Mesmo controladas, as pessoas se sentem felizes, pois nunca são ensinadas a ter pensamento próprio. Fazer parte do rebanho, ser uma ovelhinha feliz, pronta para ser devorada pelo lobo, é com isso que as pessoas estão acostumadas. “Lá fora faz um tempo confortável/A vigilância cuida do normal”, diz um dos versos da música de Zé Ramalho.

O livro também inspirou a cantora Pitty a compor a música “Admirável chip novo”, dessa vez comparando as pessoas a robôs programados para pensar e consumir de acordo com o sistema: “Pense, fale, compre, beba/Leia, vote, não se esqueça/Use, seja, ouça, diga.../Não senhor, Sim senhor/Não senhor, Sim senhor”. Quando um robô descobre que não era humano (“Até achava que aqui batia um coração/Nada é orgânico, é tudo programado/E eu achando que tinha me libertado”), logo alguém vem para reinstalar a programação e a ameaça à sociedade é evitada, tudo volta ao normal. Quando roda a vinheta do Big Brother, as pessoas, como que programadas pelo sinal, não correm para a frente da TV?

Como escreveu o filósofo Nietzsche, nós, seres humanos, possuímos “o instinto do animal de rebanho”. A felicidade para nós “aparece sob a forma de estupefação, de sonho, de repouso, de paz, numa palavra, sob a forma passiva”. No entanto, estamos deixando justamente a condição de humanos quando nos deixamos ser levados para ser abatidos, condicionados a agir conforme o sistema (seja o de televisão ou o dos governos) ou programados como robôs para servir. Como canta a banda Iron Maiden, em outra música inspirada pelo romance de Aldous Huxley: Você é planejado e está condenado/Nesse admirável mundo novo”.

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A trilha sonora para a produção da crônica foi composta, como não poderia deixar de ser, justamente pelos álbuns em que estão as músicas citadas:

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