Diário crônico VI – Controle da situação
Às
vezes enche o saco querer agradar aos outros. Ou, melhor dizendo, querer ser
menos desagradável. Gosto de estar com os amigos. Acontece que não gosto de
dançar, muito menos curtir essas músicas da moda. Para piorar, parei de beber. Para
piorar ainda mais: a cada dia que passa cresce meu desinteresse pelo futebol. Mais
ainda: deixei de gostar do carnaval. Tudo isso contribui para eu ser o “quietão”
da turma, mesmo se volta e meia tento contar alguma piada, 99,999999% das vezes
sem graça. Mas não vou abrir mão dessa minha forma de viver para ser o
“queridinho”.
Mas
aí você, leitor, deve estar pensando que sou um chato. Não, não sou. Se não
bebo, não fico insistindo para os outros pararem também. Não fumo, mas nem por
isso me importo com a fumaça de cigarro na minha cara – costumo dizer que sou
fumante passivo assumido. Tampouco tento falar sobre coisas do meu mundo para
os outros, nem fico corrigindo a fala de ninguém.
Sempre que saí foi por uma necessidade de ser
social, de fazer parte de algo. Hoje não preciso mais disso. Prefiro ficar no
meu pequeno mundo: o quarto na adolescência, a minha biblioteca agora. Ou o
espaço virtual do blog, onde escrevo para mim mesmo e, eventualmente, para um
leitor que não passe apenas os olhos nesse amontoado de letras adornado por
imagens descaradamente copiadas da internet. Aqui escrevo o que quero, publico
o que quero e por isso posso ler o que não quero também. Não censuro
comentários.
Outro
mundo que vou construindo aos pouquinhos é o meu mundo literário. Nesse mundo
sou um deus. Dou vida e sou cruel com minhas criaturas. Se não andam na linha,
eu as puno, muitas vezes com a morte, sem piedade nenhuma. Comigo não há essa
história de os personagens tomarem a rédea e controlar seus destinos. Quem
manda sou eu.
Por
falar em mandar, sinto inveja do escritor espanhol Javier Marías. Em entrevista
para o jornal El País, ele afirmou que escreve para não ter chefe nem madrugar.
Eu, como não vivo do que escrevo, tenho que acordar cedo para trabalhar e bato
continência para vários chefes: diretores, vice-diretoras, supervisoras...
Claro, sem falar nos pais dos alunos.
Fugi
demais do assunto? E daí? Aqui ainda sou meu próprio chefe. Pelo menos enquanto
meu cérebro não fugir do controle.
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