Mudanças no horizonte da educação
Um novo ano letivo iniciou nas
escolas estaduais, acompanhado, dessa vez, por mudanças significativas e
necessárias no Ensino Médio. A palavra de ordem é mudar. Aliás, é a palavra da
moda. É a palavra que não pode ser contestada. Onde já se viu ficarmos
estagnados na mesmice ano após ano! É preciso mudança. Quem discorda é porque
está atrasado, precisa se reciclar.
Não, não é bem assim. Resistir a
algum tipo de mudança não torna a pessoa um conservador insensível. Na verdade,
aceitar tão facilmente algo de cima para baixo torna o indivíduo um ser
passível, que pensa apenas pelo outros. São necessárias mudanças, sim, mas elas
devem ser questionadas quanto a sua aplicação.
Há algum mal, por exemplo, em
querer que alguns valores permaneçam? O questionamento feito hoje sobre a
indisciplina dos alunos pode ter a reposta justamente nas mudanças ocorridas
nas relações comportamentais entre pais e filhos. Não há mais hierarquia e, por
isso, o caos está formado. Se o filho não obedece mais aos pais, tampouco
obedecerá ao professor. Ora, no lugar de o aluno aceitar a autoridade, é o
professor quem deve se “adaptar aos novos tempos” e tentar conquistar o
“rebelde” através de recursos modernos e mudanças pedagógicas. Deve-se aceitar isso?
Preocupa-me a ideia de que o
professor deva ensinar em sala de aula aquilo que tenha a ver com o mundo do
aluno com o intuito de proporcionar-lhe o prazer de ir à escola. Ouvi, por
exemplo, no curso promovido pela coordenadoria de educação, que devemos saber o
que o aluno quer aprender. Hummm! Pergunte ao seu filho qual sua expectativa
para o novo ano letivo. Em 90% dos casos, se ouvirá um “não sei”, “o que vier
tá bom” ou “que eu passe de ano”. Em poucos casos, se ouvirá: “quero aprender
ou conhecer coisas novas”.
Esse deveria ser o objetivo
primordial da escola: proporcionar conhecimentos novos sobre o ser humano e sua
contribuição para a humanidade. O que se vê, no entanto, é uma tentativa de
tornar a escola tecnicista e voltada tão somente para o mercado de trabalho.
Disciplinas como Literatura, Artes, Filosofia e História vão perdendo espaço,
sendo que são elas que formam um cidadão consciente, conhecedor do mundo que
está tanto a sua volta quanto aquele que está distante. Muitos perguntam: por
que ler Machado de Assis? Eu retorno a pergunta: por que não o ler? Posso
elencar uma porção de justificativas para sua leitura, mas elas são inúteis
quando se tem no horizonte apenas o mundo rotineiro do mercado de trabalho.
Essas mudanças pecam por
estreitar cada vez mais o horizonte, na medida em que o mais importante é
“colocar o que se aprende na prática”, “aplicar o conhecimento”, sendo que,
dessa forma, o ensino tenha um sentido para o aluno. O perigo é que, às vezes,
o mundo do aluno é fechado demais.
Paulo Freire, tão citado e pouco
lido, escreveu, em Pedagogia da
autonomia, que a aula deve ser “um desafio e não uma cantiga de ninar”.
Nesse sentido, o professor deve instigar o aluno a conhecer o desconhecido,
deve incomodá-lo, tirá-lo da chamada “zona de conforto”. Essa é a verdadeira
mudança que deve ocorrer.
Comentários
A cada texto novo você tem se superado.
Muito bom!