Diário crônico X – Maria vai com as outras
Já
dizia a canção de Toquinho e Vinícius que havia uma moça muito recatada na “turma
lá do Gantois”, que era “de coser”, “de casar”, “de rezar” e “maria vai com as
outras”. Porém poucos sabiam que, além de tudo isso, também aprontava das suas
às escondidas.
Pois
a expressão que melhor define o brasileiro é essa criada pelo repertório
popular. Todo o brasileiro é um “maria vai com as outras”, faz tudo que seu
mestre manda, segue os exemplos de todo mundo (geralmente exemplos negativos),
repete bordões e chavões alheios, usa, lê, vê e ouve o que todos usam, leem, veem
e ouvem, nas redes sociais da internet compartilha imagens, frases, notícias e
opiniões sem checar se as fontes são verdadeiras, reproduz “memes”, “hashtags”,
“selfies”. Na maioria dos casos pra se mostrar o bonzinho, fazer sua parte, agradar
aos demais. Mas no fundo, no fundo, bem lá no fundo, o brasileiro esconde outro
por dentro.
Todas
essas manifestações de bom-moço que infestam a internet e que acabam se reproduzindo
depois nas outras mídias são formas de dizer que se está fazendo algo sem realmente
fazê-lo. É como rezar pela recuperação de um doente. A pessoa se sente útil sem
fazer nada. Se der certo, foi graças aos nossos “esforços”, se não, foi porque
era pra ser assim.
O
caso do momento é a banana atirada aos pés do jogador de futebol. Tanta gente
postando fotos com uma banana na mão, ou pior, comendo uma – é uma das frutas
mais horríveis de se ver alguém comendo, mais do que um cão chupando manga –, que
hoje fiquei tão irritado que mandei todo mundo enfiá-la na sua “abertura
exterior do tubo digestivo, na extremidade do reto, pela qual se expelem os excrementos”.
(Obrigado, Houaiss!) Por sorte quase ninguém leu, pois me mandariam fazer o
mesmo.
A
banana representa muito bem o brasileiro, não exatamente por descender do macaco,
mas pelas macaquices (segundo o dicionário Houaiss, carinho ou procedimento hipócrita e
interesseiro; adulação, bajulação, lisonja) que faz diariamente.
Comentários