FILOSOFICES DE UM SÁBADO DE MANHÃ NA FINALEIRA (AO QUE PARECE) DA MINHA QUARENTENA
Literatura e Filosofia, com pitadas de Psicanálise, História
e Artes em geral, me ajudam a entender o mundo em que vivo, a entender as
pessoas ao meu redor ou a entender a mim mesmo. E quando compartilho essas
minhas reflexões é porque talvez outras pessoas queiram ler algo nesse sentido
e busquem a mesma coisa. Mas veja, falo em entender, não compreender, tampouco
justificar as coisas que acontecem. Às vezes até saio mais confuso ainda das
leituras. É isso que me inquieta e me faz seguir.
Fui contaminado há muito tempo pelo vírus do conhecimento e
deste não quero distância. Desejo cada
vez conhecer mais, mesmo que o meu cérebro não retenha tudo que eu leio.
Costumo brincar com meus alunos que o bom professor deve ter três qualidades
básicas: a primeira é a boa memória e as outras duas... putz, esqueci. Meu
subconsciente (ou inconsciente?), no entanto, está sempre sendo alimentado. Em
algum momento meu consciente regurgita algo que me ajuda na vida. Por isso
leio, leio, leio e ouço, assisto, aprecio tudo que posso. De preferência aqui
da minha toca. Frequento poucas atividades artísticas fora de casa. Não vou ao
cinema, ao teatro, a exposições. Nem mesmo a saraus literários. Minha
quarentena foi autoimposta há muitos anos.
A internet ajuda. Escrevo isso, por exemplo, ouvindo um
disco da Simone, “Pedaços”, numa plataforma de vídeos, assim como vejo a capa
do disco e o encarte disponível num site. Pesquiso sobre as letras, seus
compositores, fico sabendo, por exemplo, a real história da música “Tô
voltando”, do gênio Paulo César Pinheiro. A letra foi feita junto com Maurício
Tapajós e era aquilo que diz mesmo, um sujeito que está voltando para casa e
escreve para esposa pra esperá-lo, mas o contexto da ditadura deu novos ares para
a música, outro significado. Foi o próprio compositor que disse isso. Ou seja, tudo
é contexto, tudo muda, tudo é passível de ter outra interpretação.
E quando escrevemos em época de vírus e essa quarentena,
mesmo o que não tenha nada a ver com o tema pode-se dizer algo sobre tudo isso.
Mesmo o Drummond, que abordei em outro texto. Tudo converge, hoje, para o vírus.
E então o cogito cartesiano, “penso, logo existo”, é reavaliado para o “penso,
logo não existo”, pensamento formulado pelo protagonista de Maurice Blanchot no
romance “Thomas o obscuro”. Continuo a pensar, mas esse pensamento me conduz a
questionar se existo ou sou apenas uma marionete, um títere, cobaia não de um
deus (do qual também não acredito na existência), como cantou Cazuza, mas de um
outro ser, esse sim existente, que está fazendo algum experimento. Minha existência
é o nada.
“Para
viver só, é preciso ser um bicho ou um homem — diz Aristóteles. Falta o
terceiro caso: é preciso ser as duas coisas — filósofo...”, escreveu Nietzsche,
em “Crepúsculo dos ídolos”. Não vivo só, tenho minha família, mas me sinto só
no sentido de pensar, refletir, praticar minhas filosofices. Lembro agora do
título de um livro de contos de Autran Dourado, “Solidão solitude” e também do verso
de uma música do Lobão.
Penso
diferente, não encontro pares que pensem como eu, tanto em conceitos de
Literatura, quando na sua leitura e ensino, assim como na sua escrita, mas
também no âmbito político e ideológico, também dialogando com Cazuza, e olha
que não sou muito fã dele, já escrevi minha posição uma vez. Ainda bem que não
preciso desses pares. Não os busco. Sigo lendo e escrevendo. É o que importa. O
que me importa.
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