Como sempre
Salvador Dalí - El gran masturbador
Logo ao acordar sente que, mais uma vez, não será seu dia: uma goteira bem em cima do criado-mudo molhou toda sua Bíblia. Apressado – o ônibus sai às 6 horas – derruba café na camisa novinha. Vai trocá-la. Mas quando sai de casa pisa numa poça de água acumulada da chuva e molha suas calças. Azar, pensa, vou assim mesmo.
No ônibus retoma a conversa de ontem com a sua vizinha que reclama do assédio do patrão. Diz que já pensou em denunciá-lo, porém tem medo de perder o emprego. Se vestindo assim, ele pensa, olhando para o decote da mulher, é ela quem deveria ser processada.
Desce no ponto às 7 e meia e vai direto para o balcão da loja, dá bom dia aos colegas e liga seu radinho de pilha. Ouve a as mesmas vozes, as mesmas notícias, os mesmos comentários. Também atende aos mesmos fregueses com a mesma atenção de sempre. Lê o mesmo jornal, as mesmas notícias. Ao meio-dia come a mesma comida. À tarde, muda alguma coisa?
Às 5 e meia, antes de sair, recebe um telefonema. A mesma voz o convida para jantar. Como sempre, aceita.
No restaurante de sempre, pede o de sempre. Para dois, não esqueça. O garçom sorri. Come sua parte, lamentando mais uma vez por ela não aparecer.
Conto (ou miniconto?)
por Cassionei Niches Petry
Logo ao acordar sente que, mais uma vez, não será seu dia: uma goteira bem em cima do criado-mudo molhou toda sua Bíblia. Apressado – o ônibus sai às 6 horas – derruba café na camisa novinha. Vai trocá-la. Mas quando sai de casa pisa numa poça de água acumulada da chuva e molha suas calças. Azar, pensa, vou assim mesmo.
No ônibus retoma a conversa de ontem com a sua vizinha que reclama do assédio do patrão. Diz que já pensou em denunciá-lo, porém tem medo de perder o emprego. Se vestindo assim, ele pensa, olhando para o decote da mulher, é ela quem deveria ser processada.
Desce no ponto às 7 e meia e vai direto para o balcão da loja, dá bom dia aos colegas e liga seu radinho de pilha. Ouve a as mesmas vozes, as mesmas notícias, os mesmos comentários. Também atende aos mesmos fregueses com a mesma atenção de sempre. Lê o mesmo jornal, as mesmas notícias. Ao meio-dia come a mesma comida. À tarde, muda alguma coisa?
Às 5 e meia, antes de sair, recebe um telefonema. A mesma voz o convida para jantar. Como sempre, aceita.
No restaurante de sempre, pede o de sempre. Para dois, não esqueça. O garçom sorri. Come sua parte, lamentando mais uma vez por ela não aparecer.
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