Aniversário de Lygia Fagundes Telles
Reescrevi um texto publicado no ano passado:
Dia verde
Hoje é o aniversário da rainha da literatura brasileira,
Lygia Fagundes Telles. Ela está fazendo 92 anos.
Ela
poderia escrever durante toda a sua carreira um conto apenas, “Venha ver o pôr
do sol”. Somente essa pequena grande obra-prima já a colocaria entre meus
escritores preferidos. As poucas páginas nos conduzem a um portão de um
cemitério abandonado, em cuja frente crianças brincavam de roda. Um homem
levava a sua amada – que o havia abandonado para se casar com um homem rico –,
a fim de assistirem juntos, pela última vez, ao sol morrer. O barulho das
dobradiças do portão enferrujado, o reboco dos muros rachando, o mato rasteiro
tomando conta das alamedas, tudo mostrava o abandono, a decadência do lugar.
O
homem se mostrava amável, lembrando fatos do relacionamento dos dois, enquanto
a mulher, impaciente, demonstrava a todo o momento sua contrariedade por estar
naquele lugar e jogava na cara o fato de estar rica.
O
clímax acontece bem ao fundo do cemitério, num jazigo de uma filha que o homem
afirmava ser a sua. Seria ali que a sua amada veria o pôr-do-sol mais lindo de
toda a sua vida. Paro por aqui para não revelar a surpresa para quem ainda não
leu esse conto magistral.
Pois
a Lygia nos brindou com outras obras de ouro 18 quilates. Contos como “A
caçada”, “Natal na barca”, “O menino”, “Antes do baile verde”, “As formigas”,
“O seminário dos ratos”, “Verde lagarto amarelo” e tantos outros preencheram
boa parte das minhas horas de adolescente com seus enredos tensos, amargos, às
vezes de cunho fantástico e misterioso. Alguns contos que escrevi devem muito à
Lygia, apesar de não constar nada dela nas epígrafes do meu Arranhões e outras feridas.
Dos
seus romances, nenhum me agradou muito. Mas é inegável a importância de As meninas. É a única obra da autora com
um teor político muito forte.
Hoje,
portanto, é um dia verde, cor presente em várias passagens de suas histórias,
como se pode perceber em alguns contos citados. Se pudesse, desejaria a ela um
feliz aniversário. Como não é possível, tiro da estante um de seus livros, e
entro no seu universo. É a melhor homenagem que um escritor pode receber.
Comentários
Parabéns, Cassionei, pela homenagem a essa grande escritora. Se não estou engando, o ano passado você escreveu, nessa mesma data, uma homenagem a ela. E aquilo serviu para que eu voltasse a essa grande escritora, uma das maiores da nossa terra.
Abração!