Diário crônico XVII – Teu passado te condena
Mal
sabem meus três leitores que eu fiz algo que toda a humanidade deveria me
agradecer até os últimos dias. Vocês não imaginam o desastre do qual se
livraram graças ao chá de Semancol tomado todos os dias por este escriba.
Claro, às vezes não faz efeito e cometo algumas bobagens por aqui e na vida.
But, pero, porém, nada se compara com o que poderia acontecer.
Reparem
na letra: “Sempre quero cantar, vou alegrar essa multidão./ Eu quero cantar na
televisão,/ Fazendo sucesso ou não.” E o refrão! “Mas será que vou fazer
sucesso, será?/ Será que vou aguentar o palco será?” De novo, mãozinha pra
cima! “Mas será que vou fazer sucesso, será?/ Mas será que vou aguentar o palco,
será?”
Essa
música, se podemos chamá-la assim, foi composta quando tinha uns 9, 10 anos,
durante um período curto da minha vida em que queria brilhar nos palcos como
cantor. Violão em punho ou microfone na mão, a meta era ser, talvez, um novo
Lulu Santos. No seu devido tempo descobri ser a música algo distante das minhas
capacidades artísticas. Aprendi alguns acordes no violão, mas não fui adiante,
e minha voz, reconheço, não é das melhores. E as letras? Que tal essa? “Quanto
tempo faz, quantos anos faz, que nos conhecemos./ Você disse seu nome e eu
disse o meu/ E no fim acabamos por namorar.”
Um
pouco depois comecei a ouvir música house,
tecno. Aí as letras de amor deram lugar para algo festivo como “Dançando a
noite toda a gente vai se encontrar/ no balanço desta noite tudo vai mudar.” Aproveitando
algumas aulas de inglês, parti para a carreira internacional. Com um ritmo
bate-estaca, influência de Kon Kan e outras bandas da virada dos anos 80 para
os 90, compus essa pérola desconhecida até agora do grande público:
“Mom! I’m hungry (4x)
Apple, banana, melon, plum
cherry, watermelon, fig
pineapple, lemon, orange
papaya, peach, are goods!
Mom! I’m hungry (4x)
Mais
adiante resolvi fazer Rap, assumi um pseudônimo, Derek C., e bolei algumas
letrinhas fajutas, inclusive com tom erótico como “Tire essa calcinha, mostre a
abertura da aurora/ Deite-se, que vou pegar você agora”. Bah, teu passado te
condena, hein? Ainda bem que não havia Youtube na época.
Isso tudo antes dos 13 anos. Fiz ou não fiz
bem em tomar o precioso chá de Semancol? Ainda bem que crescemos e
amadurecemos. Depois disso, já com a literatura tomando conta da minha vida, melhorei
minha escrita e compus letras de Rap mais elaboradas, intelectuais demais até
para o que se fazia no Hip Hop. Mas aí é tema para outra crônica.
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