Diário crônico XVIII – Ler por prazer?
Gosto
de ler o que me inquieta, não o que me conforta. Às vezes, endossamos a ideia
de que lemos por prazer. Mas o que é o prazer?
Fumar,
por exemplo. Até hoje não entendo como as pessoas sentem prazer nesse vício, e
olha que já fui fumante na minha adolescência e há pouco tentei ser um
cachimbeiro. Há, porém, quem sente prazer sim, e não é porque não sinto que
outras não irão sentir.
Nessa
lógica, ou falta de lógica, podemos achar agradável o não agradável, prazeroso
o não prazeroso, confortável o não confortável. Ora (direis), és um masoquista.
Pode ser. Não no aspecto físico, mas sim no psicológico. Historinhas certinhas,
que dizem o que queremos ouvir, escrevem o que queremos ler ou nos satisfaz,
não é boa literatura, ou ao menos o que considero como literatura adulta, ou,
melhor ainda, Literatura com L maiúsculo. Quando criança, sim, pode-se buscar
uma escrita que conquiste o pequeno leitor. Adulto, porém, a literatura deve
desagradá-lo.
Ora
(direis), mas gosto de ler para me distrair, me encantar, me divertir. Ótimo,
mas isso é literatura, não Literatura. Continue lendo essas obras. Eu também as
leio de vez em quando. Dan Brown, por exemplo. Serve, porém, apenas para isso: distrair.
Ora (direis), busco mensagens edificantes, ensinamentos, o caminho a seguir
nesta vida tortuosa. Eu vos direi, no entanto: isso não é nem literatura e nem
Literatura. Isso leva outro nome: autoajuda, livro espírita, mensagens
religiosas ou qualquer outro rótulo que passa distante (ou deveria) das
prateleiras classificadas com o número 8 nas bibliotecas. E, convenhamos, uma
vida torta é muito mais divertida do que uma vida retinha.
Ora
(direis), és um chato, arrogante e estraga prazer. Sim (eu vos direi, no
entanto), justamente isso. Vim para este mundo para incomodar. Assim como quero
ler algo que me incomode. Quero sofrer com a leitura, quero que ela me
desnorteie, me desoriente, me leve para o mau caminho. Sinto prazer nisso, o
que pode ser difícil de entender para quem não sente esse prazer, assim como para
mim é complicado entender quem sente prazer ao ouvir determinados tipos de
música.
Ora
(direis), vai à merda. Eu vos direi, no entanto: não quero seguir o vosso
caminho.
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